Quantas são as línguas do Brasil?

Responder a isso rapidamente é uma enrascada, porque as línguas dependem muito de seus falantes para existir.

Isso quer dizer que as línguas podem se deslocar no espaço e não possuem, portanto, um espaço delimitado num país. Os processos coloniais, por exemplo, sempre fizeram com que línguas muito distantes entre si tivessem contatos e conflitos. No Brasil, por exemplo, temos o caso emblemático das línguas gerais paulista e amazônica, formadas com base no encontro da língua dos Tupinambás e Guaranis com o português. Vale destacar aqui que a palavra nheengatu, comumente usada em muitos textos escritos sobre esse tema, só iria aparecer em meados do século XIX, dentro de um projeto nacionalista do Brasil Império, proposto pelo então General Couto de Magalhães.

Esse tipo de processo histórico fez com que o português falado no Brasil (ou português brasileiro) se distanciasse bastante do português falado pelos portugueses (ou português europeu).Pode-se dizer com certa segurança que estas línguas gerais foram mais faladas que o português nos territórios colonizados por Portugal na América do Sul até a expulsão dos jesuítas, em meados do século XVIII.

Após isso e até os dias atuais, o português foi se tornando obrigatório como língua de instrução para indígenas e não indígenas. Houve, além disso, políticas de embranquecimento da sociedade brasileira, impulsionadas na virada do século XIX
para o XX, trouxeram como consequência a presença de muitas famílias falantes de línguas asiáticas e europeias como o árabe,
o japonês, o alemão e o italiano.

Então seria melhor refazer a pergunta para algo assim: Quantas línguas são faladas no Brasil?

Para responder a essa pergunta podemos acessar a um importante trabalho publicado no ano de 2010, o primeiro Censo Linguístico realizado pelo IBGE com base em entrevistas com falantes das línguas identificadas. Graças a isso, temos uma estimativa mais próxima da realidade, que salta aos olhos de muitos brasileiros: 274 línguas indígenas faladas por indivíduos pertencentes a 305 etnias diferentes.

Outro fato que merece destaque no início do século XXI é o movimento de co-oficialização de línguas, algo que gera visibilidade a muitas línguas que são desconhecidas pela população em geral. Este tipo de ações mostram que hoje em dia já não se alfabetiza apenas em português no Brasil, porque as comunidades que se identificam com outra língua possuem o direito de escolher sua língua de instrução, assim como os alunos surdos tem o direito de receber uma educação bilíngue nas escolas públicas e privadas.

DIVERSIDADES EM ESPIRAL

Desde meados do século XXI, tem havido esforços para documentar toda informação a respeito das línguas no Brasil por instituições públicas ou não, como no caso do IPHAN e do IPOL, respectivamente.

As imigrações crescentes nos últimos 10 anos têm trazido uma nova dinâmica para cidades como São Paulo e Manaus.

Novas funções também surgem para o português falado no Brasil, agora também como língua estrangeira. Instituições supranacionais como a ACNUR têm oferecido apoio a essas populações, mas ainda faz falta uma sensibilização mais efetiva da população brasileira, porque é importante saber que não se fala somente português no Brasil. Inclusive, as populações imigrantes podem contribuir com novos conhecimentos nas universidades, escolas e ambientes de trabalho. Há haitianos que chegam ao Brasil falando três ou quatro línguas, por exemplo.

Chegamos, então, ao contexto das aldeias dos Guarani Mbyá, falantes da língua que recebe o mesmo nome, localizadas nos
distritos do Jaraguá e de Parelheiros. Em ambas as terras indígenas, professores Guaranis têm o desafio diário de alfabetizar as crianças primeiramente em Guarani Mbyá e, em anos posteriores, em língua portuguesa.

 

De acordo com o lingüista Aryon Dall’Igna Rodrigues, o Mbya, assim como Kaiowa e Ñandeva são dialetos do idioma Guarani, que pertence à família Tupi-Guarani, do tronco lingüístico Tupi. Assim, o guarani mbyá é falado por cerca de 5 mil pessoas, considerando que os Guaranis apresentam mobilidade e presença em aldeias em várias regiões do sudeste brasileiro. Uma das formas de manter a língua viva vem a ser o ensino criativo dentro dos Centros de Educação e Cultura Indígena (CECIs). As escolas vivas de saberes se compromete em apoiar essa missão de manter a língua Guarani Mbyá viva.

Na imagem anterior, os professores Guaranis trabalharam coma culinária tradicional no Ceci Jaraguá. As crianças, com o auxílio dos educadores prepararam milho cozido (avaxi),batata doce (jety) e o chipá, um alimento a base de trigo, água e sal, descrito em detalhes no segundo dia do Festival Tembiapó Rendá, organizado em parceria com as Escolas Vivas. Mais atividades como esta podem ser acompanhadas na página oficial do Ceci Jaraguá no Facebook.